domingo, 15 de março de 2009

Arcadismo


O arcadismo é uma escola literária surgida na Europa no século XVIII. O nome dessa escola é uma referência à Arcádia, região bucólica do Peloponeso, na Grécia, tida como ideal de inspiração poética. No Brasil, o movimento árcade toma forma a partir da segunda metade do século XVIII.

A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo que lhe diz respeito. É por isto que muitos poetas ligados ao arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou latinos (pois o ideal de vida válido era o de uma vida bucólica).

1 Contexto histórico
O arcadismo, também chamado de setecentismo (do século XVIII, ou os "anos de 1700") ou neoclassicismo é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII, tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa. A primeira metade do século XVIII marcou a decadência do pensamento barroco, para a qual colaboraram vários fatores: a burguesia ascendente, voltadas para as questões mundanas, passou a deixar em segundo plano a religiosidade que permeava o pensamento barroco; além disso, o exagero da expressão barroca havia cansado o público, e a chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença, atingia um estágio estacionário e apresentava sinais de declínio, perdendo terreno para a arte burguesa, marcada pelo subjetivismo.

Surgiram, então, as primeiras arcádias, que procuravam a pureza e a simplicidade das formas clássicas. Na Itália essa influência assumiu feição particular. Conhecida como Arcadismo, inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pan e habitada por pastores que, vivendo de modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer.

Os italianos, procurando imitar a lenda grega, criaram a Arcádia em 1690 - uma academia literária que reunia os escritores com a finalidade de combater o Barroco e difundir os ideais neoclássicos. Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e igualdade, os cultos literatos árcades usavam roupas e pseudônimos de pastores gregos e reuniam-se em parques e jardins para gozar a vida natural.

No Brasil e em Portugal, a experiência neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo italiano, com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente campestre, etc. Esses ideais de vida simples e natural vêm ao encontro dos anseios de um novo público consumidor em formação, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza nas cortes.

Características do Arcadismo
  • O desejo da natureza, a realização da poesia pastoril, a reverência ao bucolismo são traços marcantes da literatura arcádica, disposta a fazer valer a simplicidade perdida no Barroco. Fugere urbem (fuga da cidade)Locus amoenus (lugar aprazível, ameno)Aurea Mediocritas (mediocridade áurea - simboliza a valorização das coisas cotidianas focalizadas pela razão)
  • Inutilia truncat (cortar o inútil - eliminar o rebuscamento barroco)
  • Pseudônimos pastoris (fingimento poético para não revelar sua identidade)
  • Carpe diem (aproveite o dia)
O Arcadismo no Brasil


O Arcadismo desenvolveu-se no Brasil do século XVIII e se prendeu ao estado de Minas Gerais, onde se havia descoberto ouro, fato que marcou o local como centro econômico e, portanto, cultural da colônia portuguesa. No apogeu da produção aurífera, entre as décadas de 1740 e 1760, Vila Rica (hoje Ouro Preto) e o Rio de Janeiro substituíram a cidade de Salvador como os dois pólos da produção e divulgação de idéias.

Os ideais do Iluminismo francês eram trazidos da Europa pelos poucos membros da burguesia letrada brasileira - juristas formados em Coimbra, padres, comerciantes, militares.[1] Alguns autores destacados desse momento são Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e José de Santa Rita Durão. O Arcadismo, também chamado Neoclassicismo, terminou em 1836, no Brasil, e abriu as portas para o Romantismo.

Cláudio Manuel da Costa nasceu em Vargem do Itacolomi, hoje Mariana, em 5 de junho de 1729 e morreu em Vila Rica, em 4 de julho de 1789, foi um jurista e poeta luso-brasileiro da época.

Filho de João Gonçalves da Costa, português, e Teresa Ribeira de Alvarenga, mineira, nasceu no sítio da Vargem do Itacolomi, freguesia da vila do Ribeirão do Carmo, atual cidade de Mariana em Minas Gerais.

Tornou-se conhecido principalmente pela sua obra poética e pelo seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Contudo, foi também advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e mecenas do Aleijadinho.

Estudou cânones em Coimbra e há quem acredite que ele tenha traduzido a obra de Adam Smith para o português, mas isso nunca foi muito bem fundamAinda muito preso às imagens, segundo ele mesmo, exageradas do Barroco, e sem conseguir se desligar das "pedras", do cenário inóspito de sua região natal, Cláudio foi um poeta de transição.

Adota o pseudônimo de Glauceste Satúrnio e revela-se frustrado com sua própria obra: "vejo e aprovo o melhor, mas sigo contrário na execução". Foi, no entanto, fundamental para a propagação das idéias neoclássicas no Brasil.

Tomás Antônio Gonzaga (Miragaia, 11 de agosto de 1744 — Ilha de Moçambique, 1810), cujo nome arcádico é Dirceu, foi um jurista, poeta e ativista político luso-brasileiro. Considerado o mais proeminente dos poetas árcades, é ainda hoje estudado em escolas e universidades por seu "Marília de Dirceu" (versos notadamente árcades feitos para sua amada).

Órfão de mãe no primeiro ano de vida, mudou-se com o pai, magistrado brasileiro para Pernambuco em 1751 depois para a Bahia, onde estudou no Colégio dos Jesuítas. Em 1761, voltou a Portugal para cursar Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se bacharel em Leis em 1768.
Com intenção de lecionar naquela universidade, escreveu a tese Tratado de Direito Natural, no qual enfocava o tema sob o ponto de vista tomista, mas depois trocou as pretensões ao magistério superior pela magistratura.Exerceu o cargo de juiz de fora na cidade de Beja, em Portugal. Quando voltou ao Brasil, em 1782, foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes da comarca de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, então capital da capitanianheceu a adolescente de apenas quinze anos Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, a pastora Marília em uma das possíveis interpretações de seus poemas, que teria sido imortalizada em sua obra lírica (Marília de Dirceu) - apesar de ser muito discutível essa versão, tendo em vista as regras retórico-poéticas que prevaleciam no século XVIII, época em que o poema fora escrito.

Durante sua permanência em Minas Gerais, escreve Cartas Chilenas, poema satírico em forma de epístolas, uma violenta crítica ao governo colonial. Promovido a desembargador da relação da Bahia em 1786, resolve pedir em casamento Maria Dorotéia dois anos depois. O casamento é marcado para o final do mês de maio de 1789. Como era pobre e bem mais velho que ela, sofreu oposição da família da noiva.

Por seu papel na Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira (primeira grande revolta pró-independência do Brasil), é acusado de conspiração e preso em 1789, cumprindo sua pena de três anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, tendo seus bens confiscados. Foi, portanto, separado de sua amada, Maria Dorotéia. Permanece em reclusão por três anos, durante os quais, teria escrito a maior parte das liras atribuídas a ele, pois não há registros de assinatura em qualquer uma de suas poesias. Em 1792, sua pena é comutada em degredo e o poeta é enviado a costa oriental da África, a fim de cumprir, em Moçambique, a sentença de dez anos.

Características literárias
A poesia de Tomás Antonio Gonzaga apresenta as típicas características árcades e neoclássicas: o pastoril, o bucólico, a Natureza amena, o equilíbrio, etc. Paralelamente, possui características pré-românticas (principalmente na segunda parte de Marília de Dirceu, escrita na prisão): confissões de sentimento pessoal, ênfase emotiva estranha aos padrões do neoclassicismo, descrição de paisagens brasileiras, etc.

Marília de Dirceu

As liras a sua pastora idealizada refletem a trajetória do poeta, na qual a prisão atua como um divisor de águas(a segunda parte do livro é contada dentro da prisão). Antes do encarceramento, num tom de fidelidade, canta a ventura da iniciação amorosa, a satisfação do amante, que, valorizando o momento presente, busca a simplicidade do refúgio na natureza amena, que ora é européia e ora mineira.

Depois da reclusão, num tom trágico de desalento, canta o infortúnio, a injustiça (ele se considera inocente, portanto, injustiçado), o destino e a eterna consolação no amor da figura de Marília. São compostas em redondilha menor ou decassílabos quebrados. Expressam a simplicidade e gracioso lirismo íntimo, decorrentes da naturalidade e da singeleza no trato dos sentimentos e da escolha lingüística.

Ao delegar posição poética a um campesino, sob cuja pele se esconde um elemento civilizado, Gonzaga demonstra mais uma vez suas diferenças com a filosofia romântica, pois segue o descrito nas regras para a confecção de éclogas nos manuais de poética da época, que instruem aos poetas que buscam a superação dos antigos, imitando-os, a utilizações de eu-líricos que se aproximem as figuras de pastores, caçadores, hortelãos e vaqueiros.

Marília é ora morena, ora loira. O que comprova não ser a pastora, Maria Dorotéia na vida real, mas uma figura simbólica que servia à poesia de Tomás Antonio Gonzaga. É anacronismo destinar ao sentimento existente entre o poeta e Maria Dorotéia a motivação para a confecção dos poemas, tendo em vista que esse pensamento só surgiu com o pensamento Romântico, no século XIX.

É mais cabível a teoria de inspiração no ideal de emulação, que configurava o sentimento poético da época, baseado nas filosofias retórico-poéticas vigentes, em que o poeta, seguinto inúmeras regras de confecção, "imitava" os poetas antigos procurando superá-los. Muitos pouco conhecedores de literatura podem acreditar que o poeta cai em contradições, ora assumindo a postura de pastor que cuida de ovelhas e vive numa choça no alto do monte, ora a do burguês Dr. Tomás Antonio Gonzaga, juiz que lê altos volumes instalados em espaçosa mesa, mas o fazem por analisar os poemas com critérios anacrônicos à época, analisam com pensamentos surgidos após o Romantismo, textos que o precedem.

É interessante atentar para alguns aspectos dessa obra de Gonzaga. Cada lira é um dialogo de Dirceu com sua pastora Marília, mas, embora a obra tenha a estrutura de um diálogo, só Dirceu fala (trata-se de um monólogo), chamando Marília em geral com vocativos. Como bem lembra o crítico Antonio Candido, o melhor título para a obra seria Dirceu de Marília, mas o patriarcalismo de Gonzaga nunca lhe permitiria pôr-se como a coisa possuída.

Frei José de Santa Rita Durão (Cata Preta), 1722 — Lisboa, 1784) foi um religioso agostiniano brasileiro[1] [2] do período colonial, orador e poeta. É também considerado um dos precursores do indigenismo no Brasil. Seu poema épico Caramuru é a primeira obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de Luís de Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos (árcades).

Estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro até os dez anos, partindo no ano seguinte para a Europa, onde se tornaria padre agostiniano. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Coimbra, e em seguida lá ocupou uma cátedral de Teologia.

Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal. Trabalhou em Roma como bibliotecário durante mais de 20 anos, até a queda de seu grande inimigo, retornando então ao país luso. Esteve ainda na Espanha e na França. Voltando a Portugal com a "viradeira" (queda de Pombal e restauração da cultura passadista), a sua principal atividade será a redação de Caramuru, publicado em 1781. Morre em Portugal em 24 de janeiro de 1784.

Ao Brasil não voltaria mais, e sua epopéia é uma forma de demonstrar que ainda tinha lembranças de sua terra natal.

Obra

Quase a única obra restante escrito por Durão é seu poema épico de dez cantos, Caramuru, o qual é extremamente preso ao modelo de Camões. Formado por oitavas rimadas e incluindo informação erudita sobre a flora e a fauna brasileiras e os Índios do país. Caramuru é um tributo à sua terra natal. Segundo a tradição, a reação da crítica e do público ao seu poema foi tão fria que Santa Rita Durão destruiu o restante de sua obra poética.

Análise da obra
O
poema Caramuru narra o descobrimento da Bahia, o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores com as índias, sobretudo com Paraguaçu. O material é amplo: tem desde fatos da história do Brasil, o temperamento indígena, até lendas.
Estilo
Santa Rita Durão penetra na vida do
índio com intento analítico diferente do devaneio lírico dos contemporâneos. A visão laica e civil do Uraguai e dos poemas satíricos é aqui banida, fazendo do Caramuru o antagonista ideológico da melhor linha mental na literatura comum.
Personagens
Diogo Álvares Correia - o Caramuru
Paraguaçu - filha do cacique Taparica
Gupeva e Sergipe - chefes indígenas
Moema - índia amante de Diogo.
Uso da linguagem mitológica e do maravilhoso pagão e cristão, rigorosamente nos moldes camonianos.

José Basílio da Gama (São João del-Rei, 8 de abril de 1740 — Lisboa, 31 de julho de 1795) foi um poeta luso-brasileiro do Brasil Colônia, filho de pai português e mãe brasileira.

Ficou órfão e foi para o Rio de Janeiro. Entrou em 1757 para a Companhia de Jesus. Dois anos depois, a ordem foi expulsa do Brasil e o poeta foi para Portugal e depois para Roma, onde foi admitido na Arcádia Romana. De volta a Lisboa, por suspeita de jansenismo, foi condenando ao degredo em Angola; salvou-o um epitalâmio que dedicou à filha do marquês de Pombal, que o indultou e protegeu.

Em 1769, publica o poema épico O Uraguai, que tem por assunto a guerra movida por Portugal aos índios das missões do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões). Mais tarde foi nomeado oficial da Secretaria do Reino. Patrono da Academia Brasileira de Letras.

Utilizou o pseudônimo Termindo Sipílio.

O Uraguai

Este poema épico critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor Basílio da Gama.
Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser eles mesmos seus senhores. O enredo em si, é a luta dos portugueses e espanhóis contra os índios e os jesuítas dos Sete Povos das Missões. De acordo com o tratado de Madrid , Portugal e Espanha fariam uma troca de terras no sul do país: Sete Povos das Missões para os espanhóis, e Sacramento para os portugueses.
O nativos locais recusam-se a sair de suas terras, travando uma guerra. Foi escrito em versos brancos decassílabos, sem divisão de estrofes e divididos em cinco cantos, e por muitos autores, foi o início do Romantismo.
No Canto I o poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e , voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso - espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrada.

No Canto II relata o encontro entre os caciques Cepê e Cacambo e o comandante português. Gomes Freire de Andrada à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuitas portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate . Cacambo comanda a retirada.

No Canto III o falecido Cepê aparece em sonho a Cacambo sugerindo o incêndio do acampamento inimigo. Cacambo aproveita a sugestão de Cepé com sucesso. Na volta da missão Cacambo é traiçoeiramente assassinado por ordem do jesuita Balda, o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas.

No Canto IV o poeta apresenta a marcha das forças luso-espanholas sobre a aldeia dos índios, onde se prepara o casamento de Baldeta e Lindóia. A moça , entretanto , prefere a morte. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza:
"Inda conserva o pálido semblante
Um não sei que de magoado e triste
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte!"Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a aldeia.

No Canto V o poeta expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso -espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo - poderoso ministro de D. José I.
Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrada que respeita e protege os índios sobreviventes.

Convém ressaltar que O Uraguai, além das características árcades, já apresenta , algumas tendências românticas na descrição da natureza brasileira.



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